ANJO

O QUE ME PRENDES A VOCÊ?
SE TUDO NÃO PASSOU DE UMA MENTIRA
E O MEU CORAÇÃO AINDA EM TIRAS
ME TIRA O SOSSEGO DE UM FIM.

E ASSIM O FOGO QUE QUEIMA
NESSA TEIMA DE TE QUERER
FAZ MORRER DE TANTA ANGÚSTIA
EM NEGAR PRA NÃO MORRER.

A ESTRADA QUE ESCOLHESTES
FERIU QUE TANTO ME ESCURECESTES
SEM SEPARAR A QUEM O ESPERAVA
ME IGUALOU SEM DIZER NADA.

DE ESPECIAL TANTO QUE FUI
FIZ DE VOCÊ UM GRANDE HERÓI
E ESSA TUA FALSIDADE
TIRA MEU SONO E ME DESTRÓI.

ITORORÓ

Dos olhos o mistério cercando-me                                                                                                             da saudade ainda imatura                                                                                                                           O sonho que morreu antes de nascer                                                                                                          abortado no desejo sem esperança.                                                                                                                                                          

Não quero nada além de tudo 

e fico mudo perante os obstáculos.

Estou frágil e flutuante
Distante do meu canto.

Se o meu pranto não o alcança

Nem meu lamento o traz pensar

Se em meu canto não há poesia

O que me resta é esperar.

Do pensamento que me tonteia

sua imagem a tormentar                                                                                                                         Do esplendor de sua doçura

é tudo que resta a apreciar.

Das águas de Itororó não provei

e em suas margens rimei

De cristalinas a qual enobrece
um infinito encanto me veste.

                                       

                          

DOIDEIRA

NA MAGNITUDE DA VIDA
UM DIA SONHEI O QUE NÃO SOU

AMEI A QUEM NÃO SONHEI

E TUDO QUE SONHEI
A VIDA ABORTOU

E O QUE A VIDA ME DEU
É TUDO QUE SOU
                                                                                                                               

O DESCONHECIDO

DO PÓ QUE RETORNA A TERRA
NADA HÁ DE RESSUSCITAR
E NEM LÁGRIMAS MILAGROSAS
NEM PRANTOS E NEM ROSAS
DE QUEM CAIU
LEVANTARÁS


DA SOLIDÃO QUE PERSISTE
NADA HÁ DE ACALENTAR
E NEM TORMENTO DA SAUDADE
NEM SOLUÇOS E CASTIDADE
DE QUEM FICOU
SE SALVARÁ.


DO MISTÉRIO INDESVENDÁVEL
NADA HÁ EM COMPARTILHAR
E NEM EVANGELHO OU CRENDICES
NEM GURÚS OU ALCORÃO
DE QUEM TENTOU
NÃO SABERÁS

MINHA TERRA

O MEU ORGULHO BALANÇA-SE
COMO BANDEIRA
POR SER UM FILHO DESTA TERRA.


A MINHA ALMA RESPIRA
O SEU VENTRE
ALIÁS
NINGUÉM TIRARÁ DE MIM.


POR MAIS QUE
A MINHA LUZ SE APAGUE
SEREI FORTE ENTRE O INVISÍVEL
PROFUNDO
SÓ PARA NÃO ESQUECER-TE.


A VIDA TEM ME DADO O PRAZER
DE VENERAR ESTE BERÇO
NINHO DE TANTA POESIA.


LAGARTO
MINHA TERRA
MINHA PAIXÃO
ABRO-TE OS BRAÇOS
PARA REVERENCIAR ESTE AFETO.

O QUE SERIA DE MIM

SE AS ESTRELAS NÃO BRILHASSEM
SE O SOL NÃO AQUECESSE
SE A LUA NÃO ENCANTASSE
O QUE SERIA DE MIM?


O JORRAR DAS CACHOEIRAS
A CHUVA E AS GOTEIRAS
O BRILHO DO MEU AMOR
TUDO ISSO FAZ PENSAR:
SE NÃO PUDESSE SONHAR
O QUE SERIA DE MIM?


A SAUDADE NA JANELA
A PAQUERA INDISCRETA
COLHER O QUE FOI SEMENTE
DESCOBRIR O AMANHAR
SORRIR AO NOVO DIA
CAMINHAR AOS HORIZONTES:
SEM ISSO NÃO VIVERIA
O QUE SERIA DE MIM?


ESCREVER OS MEUS POEMAS
BANHAR-ME EM HARMONIA
MATAR A SEDE DAS PLANTAS
CAPINAR OS MEUS DESEJOS
TRANSBORDAR EM AMIZADE
AMAR A MINHA CIDADE
NÃO PENSAR EM TER IDADE.


GOSTO DA VIDA ASSIM
SEM ESSAS POUCAS REGALIAS
O QUE SERIA DE MIM?

A NOITE NÃO DORME

O AR ATRAVESSA O CORPO,
UM VENTO AFRODISÍACO
VENERA OS NOTURNOS,
TUDO É DE TODO MUNDO.


OS GRITOS SURGEM NO SILÊNCIO:
"GATOS" PROCURAM DIVERSÃO.
A PRAÇA É DO POVO,
UM CHÃO TÃO ESPERADO.


OLHOS FUMEGANTES
EM LABAREDAS DE DESEJOS.
POETAS, MULHERES VADIAS,
CACHAÇA, CIGARRO E VIGIAS.


PISCA-PISCA DA POLÍCIA,
CANDOMBLÉ, REINCARNAÇÃO.
A SAÚDE DA BRISA ENVOLVENTE
GUIA NA ESCURIDÃO.


LIXOS TRANSFORMADOS EM OURO,
VISÃO DE PARAÍSO EM BREU,
PERIGO EM AVENTURAS MACABRAS,
SAUDADE E ISNSPIRAÇÃO.